domingo, 9 de dezembro de 2007

O Porquê dos Porquês

Por que? Por que? Porque? Porquê?
É um Deus-nos-acuda. Ora a dupla vem coladinha. Ora, separada.
Às vezes com acento. Outras, sem lenço nem documento. Quem entende?
É um nó nos miolos. Jornalistas, advogados, professores, estudantes & gente boa como nós chamam por socorro. O que fazer?

Há dois empregos pra lá de conhecidos. Gente de casa, quase todo mundo os domina. Na época em que escola ensinava e o aluno aprendia, a meninada decorava: na pergunta, o parzinho é separado. Se o quê estiver no fim da frase, no fim mesmo, encostado no acento, leva circunflexo. Caso contrário, vem soltinho da silva:

Por que e por quê

- Por que José Dirceu recorreu ao Supremo Tribunal Federal?

- José Dirceu recorreu ao Supremo Tribunal Federal por quê?

- Paulo, por que você chegou atrasado?

- Paulo, você chegou atrasado por quê?

- Maria, você é sempre tão atenta, anda distraída. Por que será?

- Maria, você sempre tão atenta, anda distraída. Por quê?

Porque

A resposta à questão é fácil como tirar pirulito de bebê. O parzinho vem colado. É a conjunção causa:

- José Dirceu recorreu ao Supremo porque se sentiu injustiçado.

- Paulo chegou atrasado porque acordou tarde.

- Maria anda distraída porque está apaixonada.

Porquê

O porquê, assim - juntinho e enchapelado - , joga no time dos substantivos. É sinônimo de causa, razão, motivo. Ele apresenta duas marcas. Uma tem plural. A outra: vem acompanhado de artigo, numeral ou pronome. Quer ver?

- Agora entendo o porquê dos porquês.

- Eis o porquê da distração de Maria.

- Esse porquê poucos entendem.

- O primeiro porquê é mais fácil do que o segundo.

Por que e por quê (de novo)

Esse porquê parece repeteco do primeiro. Parece, mas não é. Ele ganhou destaque porque representa um senhor perigo. Gente muito boa tropeça nele e cai como patinho ingênuo que nada no lago. O que fazer? Dar um jeito. Entender-lhe as manhas.Desvendado o mistéio, a verdade é uma só - o diabo não é tão feio como o pintam. É malandro. Cotnra ele, malandragem e meia.

Vamos aos fatos

O porquê separado sem estar em pergunta é construção preguiçosa. Aparece pela metade. Sem muita disposição pelo batente, deixa subentendidos os substantivos a razão, a causa, o motivo.

- Gostaria de saber (a razão) por que José Dirceu recorreu ao STF.

- É possível me dizer (o motivo) por que Júlia Assumpção odeia a avó Bia?

- Ainda não sabemos (as causas) por que o Brasil invadiu o Paraguai.

Viu? Antes do porquê está escondinho um substantivo. ele não aparece. Mas conta. É que a língua, engenhosa, o omite. Os distraídos caem na armadilha. Os sabidos têm um macete. Sempre que o porquê for substituível por a razão pela qual, não duvidam. É um lá e outro cá. Se estiver no fim da linha, colado no ponto, ganha chapéu:

- Não entendi por que (a razão pela qual) o PIB do Brasil caiu neste semestre.

- Este é o melhor filme do ano. Vá ao cinema e descubra por quê (a razão pela qual).

- No livro Intermitências da Morte, de José Saramago, as pessoas deixaram de morrer. Foi difícil saber por quê (a razão pela qual eles deixaram de morrer).

Resumo da Ópera

Descobrir o porquê dos quês e porquês não é nenhum bicho-de-sete-cabeças. Basta aprender por que uns se escrevem juntinhos; outros, separados. E abrir os olhos para as manhas dos acentos. Os chapeuzinhos têm seu porquê.


ps.: coluna retirada do jornal estado de minas. Por Dad Squarisi.


"Sempre que faz algo de que se envergonha, a pessoa diz que estava só cumprindo seu dever."
Bernard Show.








Nenhum comentário: